Texto vencedor da Olimpíadas de Língua Portuguesa 2016, da Etapa municipal, em São Bernardo do Campo/SP.
Orientadora: Profa Célia Cortez
Escola: E.E.I Senador Robert Kennedy [Programa de Ensino Integral -PEI]
Gênero:
Memórias Literárias
Aluna: Ketlyn Detlinger Mecenera, nº 30 - 6ª série A/ 7º ano.
Nome do entrevistado: Ida Bregantin Mecenera, 71 anos.
Dedos de algodão
Logo
acordo, o galo nem havia de cantar e lá estava eu colhendo algodão na escuridão
da madrugada. Estava com as mãos geladas, olhava o breu com meus olhos
sonolentos e lacrimejantes, via que restavam muitos algodões a colher. De
repente, lembro que tenho de colher mais depressa, por logo após, meu pai iria
à cidade em busca de vender meu esforço.
Morávamos
em uma pequena cidade do interior de São Paulo, Bocaina, região serrana com
lidas cachoeiras e uma natureza exuberante, onde a paz se infiltrava na alma de
quem ali passava.
Volto
a me recordar que muitas vezes minha mão havia de ficar roxa, fazia uma pequena
enrolação de algodão em meus dedos, pois assim aguentava mais horas de
trabalho.
Volto
no tempo e vejo meu antigo lar, meus pais haviam ganhando um pequeno lote de
terra, onde plantávamos algodão, nossa casa era pequena e de madeira, o
banheiro ficava fora de casa, era uma casinha de madeira que tinha um buraco no
chão que servia de provada. À noite não havia energia elétrica, tínhamos
lamparina e dormíamos cedo.
Ao
amanhecer, minha mãe me dava uma folga para tomar um delicioso leite de cabra,
com torradas acompanhadas com manteiga que minha mãe produzia com as sobras da
nata do leite que consumíamos, até hoje ainda consigo sentir o paladar deste desjejum
saudável e aconchegante com minha família.
Depois
da refeição. Eu havia de colher algodões, meu pai me ajudava por instantes pois
faltava pouco para ele ir à cidade. Eu ficava à beira do rio, vendo cada vez
mais ele se afastando com sua carroça cheia de mercadorias que produzíamos em
nossa pequena terra: algodão, alfaces, ovos e sementes, e com isso fazia trocas
e vendas.
Eu
pensava como seria a cidade grande, meu dizia que havia iluminações à noite,
que era chamada luminária, também haviam fábricas, mercados e algumas lojas.
Quando
chegava em casa, tarde da noite, ele andava lentamente para não acordar
ninguém. Havia de dormir, pois não faltava muito para colher algodão, e com
isso eu fechava meus olhos sonolentos e cansados. Então, mergulhava numa maré
de sonhos, imaginando a cidade grande.
Atualmente
meus cabelos branquinhos como algodão estão em muitas colheitas de um tempo que
não foi vão. Sei que não se produz mais
algodões por lá, já que espalhou-se por toda a região o plantio de
cana-de-açucar, ei de guardar comigo fardos de recordações.